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Fora da Agulha – Saudade e celebração marcam EP de Davi Moraes em homenagem ao pai, Moraes Moreira

Créditos: Reprodução
Todos Nós (2021, Biscoito Fino) – Davi Moraes
Cotação: 3/5

O ano de 2020 foi marcado por duras batalhas. Para Davi Moraes não foi diferente. Além do falecimento do pai, o cantor e compositor Moraes Moreira, o artista também se despediu de sua mãe, Marília Mattos, e de sua avó materna, Dona Cândida. Não à toa, a saudade é sentimento presente em seu novo EP, batizado de Todos Nós.

Como em todo momento difícil, o apoio dos amigos é essencial. No single, a presença transborda. Joyce Moreno, Kassin, Marina Lima, Carlinhos Brown, Dadi e Mú Carvalho abraçam o cantor ao longo das quatro faixas da obra que traz, além de canções inéditas, a regravação de uma faixa do álbum Cara e Coração, lançado por Moraes Moreira em 1977.

Homenageado em letras e na capa, o novo baiano é a alma do EP gravado de filho para pai. Apesar de canções e poesias interessantes, o que mais se destaca nas quatro faixas produzidas por Kassin são os arranjos. Timbres e sonoridades fora do lugar comum chamam atenção entre sambas e baladas de sotaque baiano.

A faixa de abertura, “Aos Santos” (Carlinhos Brown/Davi Moraes) tem sonoridade aconchegante, marcada pelas notas dobradas da guitarra e pelo som dos teclados. O som do baixo acústico completa a beleza da gravação, acompanhado pela letra de Brown exalando a saudade e a confusão de quem se despede de alguém que ama.

Parceria inédita com Joyce, “Aquele Abraço do Gil” mostra uma letra de Moraes Moreira mais próxima de seu lado de poeta baiano do que autor de canções. A homenagem declarada ao clássico de Gilberto Gil recebe melodia da cantora carioca, que não passa despercebida graças ao arranjo marcado pela inesperada guitarra distorcida. A gravação em dueto com Davi mostra uma combinação de vozes que funciona de forma bastante harmoniosa.

Quem é acostumado com o choro de voz percussiva gravado em 1977, se surpreende ao ouvir a criativa versão de “Davilicença” (Moraes Moreira/Armandinho Macedo). De forma minimalista, a participação de Marina Lima traz vocais pouco comportados (brincando com a voz, como Moraes fazia em seus shows) que combinam com a canção, que troca o balanço agitado pelas cordas calmas do instrumentista.

O EP que marca a entrada de Davi Moraes na gravadora Biscoito Fino encerra com “O Cantor das Multidões” (Mú Carvalho), trazendo o compositor nos teclados e a participação de seu irmão Dadi, que foi baixista dos Novos Baianos e esteve presente em diversos momentos da carreira de Moraes. A faixa é uma homenagem declarada, uma exaltação que celebra as alegrias que o autor de “Preta, Pretinha” trouxe ao Brasil.

O título do EP reforça o laço musical iniciado no álbum Bazar Brasileiro (1980), onde o guitarrista teve sua primeira composição – que possui o mesmo nome – registrada pelo pai. Saudade e celebração se encontram em um trabalho coeso, que fica marcado como grande homenagem à figura de Moraes Moreira. Através das quatro faixas, Davi apresenta um trabalho em que expõe muito da mistura de sensações que é perder uma pessoa tão importante – para ele e para Todos Nós

Ouça o EP Todos Nós:

Lucas Vieira

Lucas Vieira

Lucas Vieira é jornalista e editor do Disconversa. Além de colecionar discos gosta de videogames antigos e assistir os mesmos filmes mil vezes (em VHS).

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