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LP mais raro da carreira de Marku Ribas, de 1983, é reeditado

Gravado após saída do cantor da gravadora Philips, disco volta ao mercado em vinil amarelo através da Noize Record Club

Mineiro de Pirapora, Marku Ribas (1947-2013) foi um dos artistas brasileiros que se aventurou no groove e misturou o soul e o rock com o samba na década de 1970. Com uma sonoridade que sempre flertou com frequências experimentais, sua obra passeou pelo underground e seus LPs hoje são disputados pelos colecionadores.

Marku Ribas iniciou sua carreira em 1973, com o cultuado disco homônimo que tem título confundido com o nome do selo, Underground. Também pela marca da Copacabana, lançou o LP de 1976. São duas gravações ligadas à exploração de sonoridades. Conversando de forma muito brasileira com a música negra estadunidense, batidas africanas e latinas, as duas obras tinham pouco tino comercial, o que tentou ser mudado em sua fase inaugurada no terceiro álbum, Barrankeiro (1978) e que inclui Cavalo das Alegrias (1979) e Mentes & Corações (1980).

Mantendo as vocalizações características e os arranjos percussivos notáveis, a fase do cantor na Philips/Polygram tem maior influência da disco music e dos sambas populares, caracterizando discos notavelmente menos experimentais. Segundo texto de lançamento do LP no site da Noize, Marku rompeu com a gravadora em 1980 após pressão para que o cantor gravasse um disco inteiro de samba.

A Noize, que relança agora o álbum Marku (1983) o chama de “tesouro perdido”. Não à toa. Com apenas uma edição independente lançada em vinil (que era vendida pelo próprio artista, sem presença nas lojas), o álbum não está disponível na íntegra em nenhuma das plataformas digitais (nem no SoulSeek!) e nunca foi vendido no Discogs. Uma única cópia do álbum, autografada, está à venda no Mercado Livre por R$980.

Com a liberdade, Marku Ribas pode gravar o álbum que conta com participação de Zezé Motta e que agora é reeditado. Com as duas únicas faixas disponíveis no YouTube (veja o fim da matéria), é possível perceber que no álbum lançado pela Timbre o músico estava novamente voltado para o som dos instrumentos – seja à guitarra de Romero Lubambo, à percussão de Zeca da Cuíca ou ao piano e trombone tocados por João Donato.

Em “Karijo”, palavras como “Carajás” e “Carijó” aparecem em sentenças com termos que soam como se só existissem para criar frases melódicas. Com o movimento da música, a batida africana e o som torto do violoncelo abrem passagem para a guitarra e uma gravação de voz reproduzida ao contrário, e chega ao fim com sintetizadores e a letra cantada por crianças, em um arranjo que parece anunciar a chegada dos timbres oitentistas na obra de Marku. “Urubu É Meu Lôro”, tem uma sonoridade mais próxima do funk, com pitadas de free jazz. Tem ritmo para dançar e refrão marcante. Mesmo com todos os detalhes para ouvintes mais atentos, que apreciam os fraseados dos instrumentos (inclusive da voz) é música que deveria ter ido para as pistas.

O que esperar dessa reedição?

Marku Ribas em foto de Carlos França

Os LPs lançados pela Noize Record Club possuem tiragem limitada e podem ser adquiridos em sua loja virtual através de compra avulsa (R$110) ou dos planos de assinatura trimestral e bimestral, respectivamente com preços de R$75 e R$85 por edição. O frete não está incluso nos valores e o selo informa que a previsão de envio está com prazo maior que o normal devido à pandemia do COVID-19. Para este LP, a modalidade de compra avulsa esgotou na última sexta-feira (10/07), mesmo dia de seu lançamento. O álbum traz encarte colorido e será prensado em vinil amarelo translúcido, com 140g de gramatura. Assim como todo lançamento da marca, a reedição acompanha revista com conteúdo exclusivo e agregador à experiência de apreciação do disco, incluindo imagens e textos sobre os temas que compõem o álbum.

Para quem deseja ter uma obra de Marku Ribas em sua coleção, esse é o melhor momento. É a primeira vez em quase 30 anos que um trabalho do artista é reeditado oficialmente em LP no país. Ao mesmo tempo, é compra válida para apreciadores de black music, afrobeat, experimentalismo, free jazz e samba-rock. Marku (1983) é lançamento que será muito visado por colecionadores de música brasileira, DJs e revendedores. Como a edição é luxuosa e trata-se do LP mais raro da carreira do artista, em poucos meses certamente começará a ser anunciado por revendedores a um preço muito maior que o dobro de seu valor original.

Para quem busca uma reedição fiel ao raríssimo LP original, o disco da Noize não é exatamente o produto ideal. Os encartes trazem conteúdo que diferem de outras edições, o selo também é inédito e, como revelado na imagem, será prensado em disco colorido. O problema em todas essas características existe somente para o colecionador que deseja ter o vinil idêntico à primeira edição, proposta diferente deste lançamento.

Realizamos a compra de uma unidade da reedição e atualizaremos a postagem com uma análise completa das características do disco assim que estivermos com ela nas mãos. Aguardem!

Ouça as faixas disponíveis de Marku (1983):

Karijo

Urubu É Meu Lôro

Lucas Vieira

Lucas Vieira

Lucas Vieira é jornalista e editor do Disconversa. Além de colecionar discos gosta de videogames antigos e assistir os mesmos filmes mil vezes (em VHS).

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