César Villela e as capas da gravadora Elenco
Artista responsável por uma revolução no design das capas de discos brasileiros morreu ontem aos 90 anos
Morreu ontem o designer César Villela, autor de capas clássicas de discos brasileiros. Horas antes do falecimento, o capista foi internado em um hospital no município em que residia, Miguel Pereira (RJ), com quadro de pneumonia. Nascido no ano de 1930, o artista foi responsável pela criação da identidade visual da bossa-nova. Inspirado nas ideias de Marshall McLuhan (importante teórico da comunicação), o carioca acreditava que no fim dos anos 1950 as capas de LPs continham muita informação, causando o chamado ruído visual (excesso de elementos que atrapalham a mensagem). A partir daí, desenvolveu um estilo minimalista que trouxe muita modernidade às capas brasileiras.
A história do artista está diretamente ligada ao selo Elenco, que marcou época na música brasileira nos anos 1960. A empresa foi fundada por Aloysio de Oliveira, integrante do lendário grupo Bando da Lua (que acompanhou Carmen Miranda), que também dirigiu o setor artístico da Odeon entre os anos de 1956 e 1961. César também trabalhava na gravadora, onde fez capas para discos antológicos como Chega de Saudade (1959, João Gilberto) e Caymmi e Seu Violão (1959, Dorival Caymmi). Quando se desligou da Odeon, Aloysio fundou o selo onde lançou LPs como À Vontade (1963, Baden Powell) e Bossa Session (1964, Sylvia Telles, Lúcio Alves e Roberto Menescal) e convidou César Villela para ser capista.
Utilizando efeitos de alto-contraste (valorização dos tons claros e escuros, excluindo total ou parcialmente meios-tons) e somente as cores preto, branco e vermelho, César desenvolveu mais de 20 capas para a Elenco, criando um estilo inconfundível. Em 2007 sua obra foi homenageada na capa da versão espanhola do álbum Uma Tarde Na Fruteira, do cantor Júpiter Maçã, feita pelo artista espanhol Gregorio Soria e lançada em vinil no Brasil em 2019.
Uma curiosidade: Villela usou em algumas capas quatro círculos vermelhos, incluindo o do logo da gravadora. O motivo é que na Cabala dos judeus o número representa harmonia, termo muito importante tanto no design quanto na música.
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