Fora da Agulha – Clássicos do funk melódico perdem energia em álbum de Luana Carvalho
Segue O Baile (2021, independente) – Luana Carvalho
Cotação: 2,5/5
Depois de sambar no Baile de Máscara (2020), onde visitou a obra de sua mãe, a sambista Beth Carvalho, a cantora carioca Luana Carvalho se direciona agora para o funk. Lançado nas plataformas digitais, Segue O Baile leva a estética da MPB contemporânea, com produção de Kassin, ao encontro do som dos bailes da década de 1990, onde o funk melody imperava.
De forma geral o disco soa simpático e com fácil assimilação. Porém, mesmo que a intenção seja transportar a estética do funk para um som mais leve, os arranjos e a voz não encontram substituto que preencha a energia característica das composições. A sonoridade do álbum é básica, sem explorar nos instrumentos – majoritariamente acústicos – a batida marcante e os fraseados melódicos que dão característica ao estilo, muitas vezes criados nos sintetizadores.
A escolha das músicas para o repertório do disco não é ruim e, segundo a cantora revelou em entrevista, tem caráter sentimental e não busca ser revolucionário. Com tempero indie, “Rap do Solitário” (MC Marcinho) é a interpretação mais acertada, em raro momento em que se pode sentir a alma da canção através da melodia e do ritmo dançante. O baixo acústico traz timbre inesperado que se encaixa com naturalidade ao longo das faixas e “Oração” (Pedro Bernardes) se diferencia por tentar caminho diferente através de influências de percussões afro-brasileiras.
Incluídas junto às releituras de artistas como MC Bob Rum, Latino e Ludmilla, as faixas autorais acertam no discurso e mostram o potencial de Luana Carvalho como compositora. A artista – que reconhece publicamente seus privilégios e as questões relativas a gravar um disco de funk – emplaca letra de excelência sobre a hipocrisia de falsos militantes de esquerda das redes sociais em “Selfie”. Em “Teta Sem Treta” evoca o empoderamento feminino e em “Mainha” conecta raízes com sua mãe e com sua religião.
A fórmula de inserir o funk na linguagem da MPB não é inédita – as regravações de “Quero Te Encontrar”, do repertório de Claudinho e Buchecha e “Cheguei” de Ludmilla feitas, respectivamente, por Kid Abelha (2004) e Zeca Baleiro (2018) são exemplos. Em Segue O Baile o encontro dos estilos soa pouco empolgante, deixando a sensação de que as releituras pecam por não traduzirem uma característica essencial do ritmo carioca: a energia.
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