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Conheça a história de como o LP substituiu o disco de 78 rotações no mercado

Há 72 anos, em 21 de junho de 1948, o vinil era lançado pela gravadora Columbia

Você que está acostumado a ouvir música em vinil, talvez não saiba que antes dela havia outro modo de escutar som através de discos. O LP que conhecemos hoje só chegou às lojas no final da década de 1940, em um investimento da gravadora americana Columbia Records. Antes dele, o principal modo de curtir um disco era através dos 78 rotações, gravações de 10 polegadas feitas em goma-laca que apresentavam diversas desvantagens em relação ao seu sucessor.

Como reprodutor de áudio, o disco foi patenteado junto com o gramofone em 1888, pelo inventor Emil Berliner. Comercializado a partir de 1895, o formato enfrentou uma pequena batalha com o cilindro fonográfico, que começou a perder espaço no mercado a partir de 1910. Em relação ao concorrente, o 78 RPM apresentava as vantagens de ser mais fácil de ser produzido em massa, trazia a possibilidade de incluir o selo fonográfico em seu centro e chegava às lojas encartado dentro das capas, o que o tornava um produto mais atraente para o mercado.

Apesar dessas vantagens comerciais, que garantiram ao formato seu auge de vendas entre as décadas de 1920 e 1940, a indústria buscava substituir a matéria-prima do 78 rotações: a goma-laca. A partir da década de 1920 – quando também começaram as gravações elétricas, em 1925, com microfones e amplificadores substituindo os registros feitos de forma mecânica através de uma concha acústica – foram testados discos de baquelite e ocorreu uma primeira tentativa com vinil. Naquele momento, esses materiais eram caros e não ofereciam vantagens a ponto de serem considerados substitutos para o material orgânico em uso pelas fábricas.

Feita a partir de uma secreção retirada de um inseto nativo das florestas asiáticas, a goma-laca passou a ser problemática para a indústria no período da Segunda Guerra Mundial – entre os anos de 1939 e 1945. Como era produzida na Ásia, dominada naquele momento pelo Império do Japão, uma das potências do Eixo, a resina tornou-se muito cara para a produção dos discos nos Estados Unidos, que lutava ao lado dos Aliados e, por isso, estava sob um bloqueio comercial. Foi com esse encarecimento da matéria-prima que reforçou-se o desenvolvimento de um material próprio para a fabricação de discos nos EUA.

Na década de 1920 a Victor já havia investido nas pesquisas para a produção de discos em vinil (o policloreto de vinila, popularmente conhecido como PVC), porém sem sucesso, uma vez que o preço final do produto não seria competitivo com os 78 RPM. A história começou a mudar na década de 1940 quando o engenheiro Peter Carl Goldmark desenvolveu o microssulco, com 1/4 do tamanho do sulco então tradicional, que permitiu um maior aproveitamento do espaço físico do vinil, garantindo um maior tempo de duração para as músicas registradas na mídia. A vantagem do maior tempo de execução compensou o custo maior da produção do vinil. Enquanto o antecessor reproduzia no máximo 5 minutos por lado, os novos LPs teriam até 30 minutos em cada face. Além da minutagem, o disco de vinil se apresentou mais durável. Diferente do disco de goma-laca, é mais flexível e maleável, portanto, mais difícil de quebrar e de ser arranhado.

Foi em 21 de junho de 1948 que o disco de vinil com microssulcos foi apresentado em uma coletiva de imprensa. No hotel Waldorf Astoria, em Nova Iorque, a Columbia Records apresentou seu novo produto com dois álbuns: uma reedição com capa alternativa do álbum The Voice Of Frank Sinatra (1946) em 10 polegadas e Mendelssohn: Concerto In E Minor For Violin And Orchestra Opus 64 (1948, Nathan Milstein), o primeiro 12 polegadas. Diferente dos antecessores, os discos rodavam com 33 1/3 rotações por minuto e possuiam de 25 a 30 centímetros. Seis meses depois a quantidade de unidades vendidas já somava 1.250.000 vinis.

Com um produto que armazenava maior informação e com maior durabilidade no mercado, o 78 RPM entrou em decadência com sua produção encerrada nos Estados Unidos em 1957. No Brasil, foi fabricado até 1964 e em países como Gana, Guatemala e na União Soviética foi comercializado até a década de 1970.

Enquanto o 78 RPM sumia no mundo, o disco de vinil vivia sua plena ascensão. Já em 1949 o compacto (7 polegadas) entrou no mercado através da RCA Victor, inaugurando os discos em 45 rotações no grande mercado, e o vinil se tornou o principal formato de consumo de música até a década de 1980. Com o advento do CD e, posteriormente do streaming, o vinil perdeu seu protagonismo e tornou-se um artigo de luxo. Entusiastas, colecionadores, audiófilos e admiradores tornaram-se os consumidores de discos nas décadas seguintes.

Em 2019 a Associação Americana da Indústria de Gravações (RIAA) revelou através de pesquisa que o faturamento de discos de vinil ao redor do mundo têm crescido, enquanto os CDs têm perdido espaço no mercado. Desde 1986, os Compact Discs têm vendido mais que os bolachões ao redor do mundo. No estudo, revelaram que na primeira metade do ano passado o faturamento da venda de LPs foi de US$224,1 milhões (R$1.177.331.760 na cotação de junho de 2020), relativos à 8,6 milhões de unidades, contra U$247,9 milhões (R$1.302.367.440 na cotação de junho de 2020) relativos à 18,6 milhões de CDs. Apesar da diferença em unidades, é um dos momentos na história em que a diferença relativa ao faturamento se tornou mais estreita. Não foram publicados dados recentes sobre a pesquisa.

Dez anos da volta da produção de LPs no Brasil

O primeiro LP foi lançado no Brasil em 10 polegadas, com a coletânea de marchinhas Carnaval em “Long Playing” (1951), com interpretações de diversos artistas. Quase 60 anos depois, em 2020 completam-se dez anos do retorno da fabricação de discos no Brasil, com a reabertura da fábrica da Polysom em 2010. Desde então, novos selos, fábricas e clubes de assinatura surgiram no país, tema que foi abordado no episódio 18 do Disconversando, podcast do Disconversa. Desde o encerramento da fabricação de LPs no Brasil, ocorrida em 2007 apesar do formato já não ser fabricado em grande escala desde o final da década de 1990, já foram lançado mais de 300 títulos no país com o retorno ocorrido no primeiro ano da década passada.

Lucas Vieira

Lucas Vieira

Lucas Vieira é jornalista e editor do Disconversa. Além de colecionar discos gosta de videogames antigos e assistir os mesmos filmes mil vezes (em VHS).

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