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Espacialrias: “Quem Não Conhece Vai Relembrar – Improv. Vol. 1” – Quando a Espontaneidade Produz Obras

Texto por Tobias – https://www.instagram.com/malditobias/
Foto de destaque: Aria – https://www.instagram.com/a.aria51/

Neste primeiro volume de coletâneas de improvisos, recortes e colagens (visuais e musicais) os alquimistas Isaacão, Jow e Trila (vou sim escrever essa resenha utilizando os apelidos que usei pra salvar o nome deles nos meus contatos) mostram que de uma reunião espontânea de membros da banda para organizar ideias e projetos, pode sair um bom material para uma banda que já começa a ter uma base de fãs e shows dentro e fora de São Paulo no currículo.

Por ter amado esse projeto que saiu de surpresa na manhã desse 1º de Abril (parece até que é mentira rs), deixarei aqui uma pequena resenha do que esse projeto me passou, porque, pelo menos pra mim, tem potencial pra virar um clássico underground (e quem sabe ser revisitado?), mas, sem mais delongas : Quem Não Conhece Vai Relembrar Vol 1. – As Viagens da Espacialrias:

OUÇA: https://espacialrias.bandcamp.com/album/quem-n-o-conhece-vai-relembrar-improv-vol-1

Capa: Isaac (@isaaccles)

Faixa a Faixa por Tobias:

1- Do Ido

No primeiro som eles chegam num balanço muito familiar, é uma coisa que te faz pensar: “Eu já estive aqui antes”, relembra até mesmo certos grooves do EP homônimo Espacialrias. Aqui o foco é certeiro, eles mandam o papo direto e reto: “Olha, estamos aqui de novo, a gente avisou que voltava”.

Doido?
Doído?
Do Ido
Daquele que foi?

2- Nave Mãe

A resposta para a pergunta feita acima é respondida, eles avisaram que chegaram pra partir, e a nave mãe não demora pra decolar, ela leva agito e mais balanço do que a música anterior, melhor ainda, eleva níveis de momentos lisérgicos e paisagistas. Esses manos falam sem precisar de palavras, poucos recortes de diálogos já são suficientes pra que a ideia seja transmitida, e ela é: “Venha, venha conosco, a nave mãe não leva apenas sonhos, mas tudo o que é necessário pra concretizá-los”.

E o que dizer da guitarra de Isaac que performa um lindo canto de guerra acompanhado do batalhão de sustentação que são Jow e Trila, aqui todos eles estão no ápice da sincronia.

A nave mãe não só decola, como brinca nos céus.

3- América Latina

E a não é que a nave mãe tem seu destino?
América Latina pode muito bem ser compreendida como um lado B de Nave Mãe. A mesma proposta rítmica, a mesma sensação de que o que está ao entorno é luta, é agito, é adrenalina (e feita de forma excepcional como todo bom latino pode fazer).

Fazer você se mexer aqui é a proposta, e isso diz muito sobre o título da música, a América Latina é fogo na ferida.

4- 150bpm

Aqui temos a confirmação de que toda essa junção sonora consegue te transportar para espaços onde a energia, o balanço, o groove é lei, é regra. Não há vida sem estímulo, não há vida sem agitação e não há possibilidade de se chegar a algum lugar sem mexer os pés.

150bpms de adrenalina, vida em seu estado inicial: “Caos”.

5- (U27)

E o caos tem ordem? Talvez sim ou não. Pelo menos aqui ele é direcionado, apesar do caos ser muita das vezes algo que te tira do seu controle, aqui os sons não são transmitidos para te mexer, aqui eles dizem: “Relaxe e sinta a profundidade da desordem”.

Aliás, seria essa densidade e essa profundidade relacionada ao titulo? (afinal u27 era nome de um submarino).

6- Sons Do Infinito

E temos aqui o fim(?).

Sabemos que não, pois os sons que nos são apresentados aqui são colagens cotidianas que confirmam a mensagem: “Os sonhos são múltiplos, a vida é versátil, as pessoas são muitas, os sons são infinitos”. E numa atmosfera atenuada e aveludada, com formato de nuvem, que essa jornada termina para começar, e começa do fim. Depois de terem ido pra voltar, voado pra lutar, e caminhado pra navegar, nossos garotos da grande nave Espacialrias mostram o seu trajeto, o infinito em si.

Dessa forma nossos grandes alquimistas encerram o começo de um projeto fantástico e fantasioso, que junto com a arte visual de capa (uma mistura de colagens de diversas opções para capas feitas por este que voz escreve, e reinventadas pelos meninos da banda) hora te alerta sobre a necessidade de se estar conectado com o que é real, e hora te conecta com o que pode ser imaginado, inventado e transformado.

Uma coisa é certa: em todo o projeto sempre haverá um convite para a dança, um convite pra vida, pois o som da Espacialrias carrega muito do groove que só essa cidade bruta chamada São Paulo pode prover, um som que nos informa: “Em meios a tantos corpos robóticos, balance as estruturas do concreto” (seja ele físico ou não).

Aguardo ansiosamente a próxima parte disso.

Siga a banda Espacialrias: https://www.instagram.com/espacialrias/
Spotify: https://open.spotify.com/artist/2dVbiasjilhtsy6NXH2nj0?si=A9oB1qwvQPSSHkkrOxTd6w
Youtube: https://www.youtube.com/channel/UCx2LTCuxKR7u9VoqbKZgVqg
Bandcamp: https://espacialrias.bandcamp.com/

Jônatas Marques

Jônatas Marques

Jow (@heyyjow) é quase músico, quase jornalista e quase analista de sistema. Ele tenta unir essas 3 meias profissões fazendo um som na Espacialrias (@espacialrias) e no Projeto Casulo (@casu.l0), prestando assessoria para artistas independentes e paga as contas trabalhando com TI e jornalismo. Jow vê na música e na arte uma forma de respiro no meio do sistema destrutivo que vivemos, por isso dedica seu tempo em falar sobre seus artistas favoritos aqui no Disconversa.