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Paraíso da Miragem é vôo de Russo Passapusso longe do Baiana System, mas com a mesma bagagem

Paraíso da Miragem (2014, Oloko Records) – Russo Passapusso
Cotação: 4/5

Até o lançamento de Duas Cidades (2016) a explosão sonora e visual do Baiana System ainda não havia mostrado toda a sua força, apesar de já experimentar a fórmula que trouxe tanta relevância ao trabalho da banda: a união de todos os santos da Bahia através da guitarra baiana com o formato contagiante dos sound systems jamaicanos. Hoje, seis anos após o lançamento do primeiro álbum solo do vocalista Russo Passapusso, Paraíso da Miragem, a banda soteropolitana é uma das manifestações mais importantes da música brasileira contemporânea.

Em sua estreia solo, Russo pensa suas influências e trabalha sua criatividade em outra linguagem. Saiu o sound system e entrou um instrumental mais formal – teclados, baixo, bateria, guitarra, violão e programações eletrônicas. Com Paraíso da Miragem, o cantor lançou uma obra de roupagem completamente contemporânea – a estética marcante da música brasileira de 2010 está impressa em seu álbum. Têm responsabilidade nessa característica do álbum seus colaboradores: a produção de assinatura de Curumin, Zé Nigro e Lucas Martins e a participação especial de Anelis Assumpção, BNegão, Marcelo Jeneci entre outros.

Créditos: Reprodução

O LP tem uma excelente abertura com “Paraquedas“. O flerte com a influência sempre citada de Antônio Carlos e Jocafi se soma a batida inconfundível de Curumin. Ao longo do disco, efeitos que aparecem nas transições entre as faixas dão ao mesmo tempo sensação de intervalo e união. Os ruídos e o som do órgão entre os sambas “Sangue do Brasil” e “Relógio“, por exemplo, dão sensação de continuação entre a crítica política e a reflexão cotidiana.

Russo apresenta histórias em diferentes ritmos – funk, rap, soul e afrobeat – que são amarrados por arranjos que fazem o samba baiano e o black rio vestirem a mesma roupagem moderna, em faixas em que pode sentir a intensidade com que os instrumentos foram gravados. A única canção que destoa em Paraíso da Miragem é o rock “Remédio“, com sonoridade que não encontra seu espaço dentro do repertório da obra.

Além dedicação atenciosa à estética do álbum, imprimindo timbres e ideias criativas em ritmos tradicionais, Russo Passapusso somou sua interpretação marcante em canções com sua assinatura característica, o que o classifica como um artista de personalidade independente da proposta em que se insere. Paraíso da Miragem é álbum em que brinca com imagens e significados do cotidiano e acerta na abordagem das questões políticas, sempre presentes em sua obra. Ao lado de discos como Efêmera (2010, Tulipa Ruiz) e Boca (2015, Curumin), compõe lista de discos mais interessantes lançados na música brasileira nos últimos dez anos.

Em Vinil

Paralelamente ao lançamento digital, Paraíso da Miragem teve uma edição em vinil fabricada em 2014, com LP em capa simples. Hoje, apenas seis anos depois, as cópias ultrapassam o preço de R$600. O valor mais alto vendido no Discogs foi de R$800 e há unidades anunciadas por valores que alcançam R$1700.

A 45ª edição do Noize Record Club (e 109ª da revista) traz uma nova edição do álbum ao mercado. Esgotada em menos de 48 horas para compra avulsa, a reedição ainda pode ser adquirida através de assinatura – com carência de três meses. Entre as novidades da segunda prensagem, estão vinil amarelo opaco e material gráfico inédito – há grandes chances de se tratar de um novo selo e encarte, enquanto a arte original de capa e contracapa se manterem originais.

Créditos: Reprodução
Lucas Vieira

Lucas Vieira

Lucas Vieira é jornalista e editor do Disconversa. Além de colecionar discos gosta de videogames antigos e assistir os mesmos filmes mil vezes (em VHS).

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