CríticaMatérias

Dona Onete fez de Banzeiro álbum em que se comunica com o Brasil no idioma do Pará

Banzeiro (2016, Na Music) – Dona Onete
Cotação: 4/5

Com a carreira iniciada aos 73 anos, com o álbum Feitiço Caboclo (2012) Dona Onete chegou ao mercado fonográfico com o respeito de uma grande artista, não só por sua voz de muita presença mesmo com a idade, mas também pela qualidade de suas composições. Quatro anos depois, a cantora gravou Banzeiro, seu segundo trabalho, em que divide sua poética romântica e festeira entre banguês, carimbós e boleros.

A produção do álbum foi feita por Pio Lobato, guitarrista que compõe a banda do disco ao lado de JP Cavalcante (percussão), Breno Oliveira (baixo) e Vovô (bateria). Com som limpo, o conjunto não buscou a fórmula de apresentar uma sonoridade jovial alinhada a uma voz veterana. Banzeiro é uma ilustração da cultura viva do Pará gravada em arranjos precisos, que deixam os destaques para as canções e letras de Dona Onete.

A ordem das músicas em Banzeiro segue uma boa escolha. Começa com a agitada “Tipiti” e segue o ritmo fervente até a quinta faixa, “No Sabor do Beijo“. Em seguida, a audição é acalmada pela sensualidade dos boleros “Proposta Indecente“, “Quando Eu Te Conheci” e “Coração Brechó“. Depois, o ritmo volta a acelerar e o ouvinte já está dividido entre a batida e a poesia.

Créditos: Reprodução

Como letrista, Dona Onete consegue agregar públicos diferentes que se encontram em suas palavras. Do discurso carnavalesco da primeira parte do disco, que inclui uma música de empoderamento ao movimento LGBTQI+, “Na Linha do Arco-Íris“, a artista fala do desejo sexual feminino com muita liberdade, do jambu – planta paraense da qual é feita cachaça tradicional da região, bebida da moda entre jovens do sudeste – e, assim, faz com que ouvintes de diferentes idades e localizações se identifiquem com sua obra.

Com produção certeira que economiza nos arranjos para ressaltar as características mais relevantes da arte de Dona Onete, Banzeiro é álbum versátil, com potência que atinge diversos públicos e, além disso, um retrato histórico da cultura paraense. Além do registro da música tradicional, moderniza-se pela temática contemporânea das letras que, vale enfatizar, foram escritas por uma artista com mais de 70 anos de idade.

Em Vinil

Detalhe da edição original em LP de Banzeiro | Créditos: Reprodução

Editado no formato originalmente em 2017, no Reino Unido, pela Mais Um Discos, uma cópia da edição original tem preço médio de R$140, segundo o Discogs. Título escolhido para ser a 25ª edição do clube de assinatura Três Selos, Banzeiro recebe reedição em vinil de luxo, a primeira lançada no Brasil. O volume conta com luva rígida, disco de 180g, pôster exclusivo e encarte com conteúdo inédito produzido pela jornalista Lorena Calábria. O LP pode ser adquirido nas modalidades compra avulsa e assinatura através do site do clube.

Lucas Vieira

Lucas Vieira

Lucas Vieira é jornalista e editor do Disconversa. Além de colecionar discos gosta de videogames antigos e assistir os mesmos filmes mil vezes (em VHS).

Deixe um comentário