Na parte funda da piscinaPlaylists

Na Parte Funda da Piscina # 11 – Aqui, Jazz.

Eu, DJ tranzimbah, serei seu guia “Na Parte Funda da Piscina.”

Nessa sessão do nosso Disconversa, vou apresentar DJ Sets semanais (atualmente toda Quarta-Feira) cuja a finalidade, e como o nome sugere, é dar um mergulho de cabeça para descobrir novos gêneros musicais, subgêneros e principalmente novas sonoridades. O termo foi usado por Ed Motta em uma entrevista à Mauricio Valladares, no programa “Ronca Ronca“, para se referir àquelas músicas que saem do costumeiro, que vão muito além da beirolinha. E como um entusiasta e propagador dos mergulhos sonoros mais profundos, decidi batizar assim esse novo projeto.

Vamos mergulhar em águas sonoras do Samba Jazz. O Jazz à brasileira. Um ode aos inoxidáveis trios jazzísticos que surgiram nos anos 1960 em terras tupiniquins tocando noite a afora e madrugada a dentro, seja pelos bares da zona sul carioca como os da capital paulista. Apesar de serem separados por algumas milhas de distância, o Jazz estadunidense e o Choro ou o Samba brasileiro tiveram suas origens vindas do mesmo lugar: África.

Não é de hoje que existe esse papo dos intelectuais arautos do que é bom ou ruim no campos das artes rechaçando de forma arbitrária qualquer tipo de influência estrangeira na produção artística brasileira. Em 1929 a revista Phonoarte disse que a canção “Carinhoso” de Pixinguinha, sofreu muitas influência rítmicas e melódicas da música popular ianque, o Jazz. Não tem um movimento moderno que não sofra paulada dos paladinos da “pureza” nacional da música popular brasileira. Papo furado. A começar que é contra estrangeirismos até a próxima pagina. Afinal a nossa música como os pesquisadores e entendidos do assuntos costumam dizer é fundada por três partes: a música preta dos escravos, a branca dos colonos e dos imigrantes trazidos ao Brasil pós escravidão e a música do nativo do país, o indígena. Então essa ladainha de pureza aqui não cola não bicho. É misturando tudo e deixando bom pra que soe bem aos ouvidos, morou?

O recorte aqui que usei para montar essa mix foi de 1952 a 1967. O período não é ao acaso. São durante esses anos que passamos por que é chamado de modernização e criação do que conhecemos como MPB. Os improvisos jazzísticos em cima de temas brasileiros, é isso que é o samba jazz. Confundido muitas vezes com músicas da Bossa Nova, movimento que surgiu durante esse mesmo período de tempo – o marco zero da bossa nova é o lançamento do compacto “Chega de Saudade/Bim Bom “- (Odeon, 1958) 78 rpm de João Gilberto lançada no ano de 1958. A Bossa Nova foi a batida de João no violão mudando e criando a forma de tocar um samba. A forma dele de cantar baixinho todo cool pique Chet Baker, mudou tudo. Criou possibilidades infinitas e fazendo influir nos mestres do Jazz estadunidenses. Antes influenciadores, agora influenciados. Em 1962 acontece um show no Carnegie Hall contando com os meninos Oscar Castro Neves, Sérgio Mendes, Roberto Menescal, Carlinhos Lyra, Chico Feitosa, Milton Banana, Caetano Zama, Sérgio Ricardo, Normando Santos, Dom Um Romão, Luiz Bonfá, Agostinho dos Santos, João Gilberto e Antonio Carlos Jobim conhecido como o compositor de “Desafinado”. Era nosso dream team do New Brazilian Jazz, como os gringos gostam de chamar.

Mas a história da Bossa Nova é amplamente divulgada, estudada, documentada e contada. Não faltam documentários, livros, filmes e exposições periódicas sobre o movimento musical. O que pretendo trazer aqui nessa mixtape é ajudar a divulgar trabalhos de artistas que são conhecidos, reconhecidos ou pouco lembrados. Nesse período surgiram os trios de piano-baixo-bateria que fariam história tocando temas brasileiros com improvisação jazzística, o que germinou e cristalizou definitivamente o samba-jazz. Entre dezenas deles, despontaram Tamba Trio (LPs “Tamba Trio”, “Avanço” e “Tempo”), Sambalanço Trio (LP “Sambalanço Trio”), Milton Banana Trio (LPs “Samba é isso – vol. 4”, “Balançando” e “Vê”), Salvador Trio (LPs “Salvador Trio” e “Rio 65 Trio”), Tenório Junior Trio (LP “Embalo”), Bossa Três (LP “Bossa Três em Forma”), Jorge Autuori Trio (LPs “Vols. 1 & 2”), Primo Trio (LP “Sambossa”), além do Embalo Trio, Bossa Jazz Trio e Trio 3-D.

Essa mixtape é um salve para a obra de Johnny Alf, João Donato, Laurindo de Almeida, Eumir Deodato, Manfredo Fest, Luiz Bonfá, Guilherme Vergueiro, Sérgio Mendes, Dom Salvador, Luiz Eça, Raul de Souza, J. T. Meirelles, Agostinho dos Santos, Cesar Camargo Mariano, Baden Powell, Mauricio Einhorn, Milton Banana, Claudette Soares, Alaíde Costa, Marisa Gata Mansa, Leny Andrade, Pery Ribeiro, Julio Barbosa, Maestro Cipó, Hugo Marotta, Silvio Cesar, Orlann Divo, Tenório Junior, Jorginho Ferreira da Silva, Edson Maciel, João Luiz Maciel, Durval Ferreira, Dom Um Romão, Chico Batera, Victor Manga, Tião Neto, Rosinha de Valença, Manuel Gusmão, Luiz Carlos Vinhas, Hélcio Milito, Bebeto Castilho, Sylvinha Telles, Dóris Monteiro, Wanda Sá, Tito Madi, Sergio Ricardo, Candinho, Mario Castro Neves, Osmar Milito, Aurino Ferreira, Sérgio Barrozo, Roberto Menescal, Alberto Castilho, Ronaldo Vilela, Oscar Castro Neves, Jorge Ben, Toninho Oliveira, Sérgio Augusto, Marcos Valle, Lúcio Alves, Antonio Adolfo, Chico Feitosa, Mario Telles, Moacir Marques, Juarez Araújo, Odette Lara e tantos outros mestres que que ajudaram a consolidar e pavimentar o caminho da música moderna brasileira. É samba jazz, é new brazilian jazz, é uma bossa nova, é jazz e nada mais.

Bom mergulho, aumente o som, dê play e caía no balanço

Deixo aqui a leitura da tese de doutorado de Marcelo Silva Gomes que aborda o tema do samba jazz. O link de acesso a tese você encontra aqui.

William de Abreu

William de Abreu

William “Tranzimbah” de Abreu tem 29 anos, é comunicólogo e DJ.⠀ Will é o cara que manja tudo de Black Music, um dicionário ambulante de quem sampleou quem nesse mundão sem fronteira. As misturas de música brasileira com rap e hip-hop são seus xodós.

One thought on “Na Parte Funda da Piscina # 11 – Aqui, Jazz.

Deixe um comentário