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Disco da Semana – Um passeio pela carreira de Billy Higgins

Um dos mais icônicos bateristas do jazz, Billy Higgins esteve por toda parte. Duas décadas após sua morte, lembramos de alguns de seus mais importantes trabalhos, passeando um pouco por sua prolífica jornada musical.

Acompanhando de Ornette Coleman a Herbie Hancock, o baterista californiano Billy Higgins realmente esteve por toda parte. Reconhecido como um dos músicos mais célebres da Blue Note (o mais importante selo de Jazz, subsidiário da EMI), Higgins começou sua carreira tocando na banda de apoio de Bo Diddley. 

Em 1953, se juntou ao grupo de seu amigo e colega de faculdade Don Cherry, o “Jazz Messiahs”, que se tornou anos depois um dos principais expoentes dentro do free jazz. Higgins acumulava, a essa altura, uma bagagem musical gigantesca, que seria o prelúdio de sua versatilidade, afinal, tocar o revolucionário e ainda novo rythm and blues/rock n’ roll de Bo Diddley e improvisar dentro do free jazz não é para qualquer um. 

Seu próximo passo foi integrar a banda de Ornette Coleman, que na época era ainda um desconhecido saxofonista texano que sequer se sustentava financeiramente com a música. Higgins e Cherry fizeram parte das primeiras apresentações de Coleman, que causavam impacto e espanto nas plateias, ainda não acostumadas com aquela sonoridade extremamente transgressora para a época. A dupla também participou dos mais importantes álbuns do saxofonista: Something Else, The Shape of Jazz to Come, Change of the Century e Science Fiction

Abordando tanto a sensibilidade do hard bop quanto a fluidez de certa forma abstrata característica do free jazz, Higgins se tornou um baterista muito requisitado no meio e fez uma série de participações com artistas fantásticos, contribuindo para o próprio desenvolvimento do gênero por integrar álbuns seminais. Selecionei cinco: 

Ornette Coleman – The Shape of Jazz to Come (1959)

Num ano de florescimento absoluto do jazz em diversos formatos criativos, A Shape of Jazz to Come foi um marco na história do gênero. O disco realmente moldou a modernização do jazz, representando uma mudança de paradigmas no estilo, onde a intuição, alma e criatividade tinham o papel principal na concepção da sonoridade. Na bateria, Higgins executava linhas impressionantemente velozes de be-bop, e a ideologia de liberdade criativa que Coleman pregava fez com que baterista criasse suas linhas mais viscerais. 

Herbie Hancock – Takin’ Off (1962)

Um clássico com um time de craques selou a estreia do primeiro LP de Herbie Hancock aos 22 anos. Estrelando: Higgins nas baquetas, Dexter Gordon no Sax tenor, Freddie Hubbard no trompete, e Butch Warren no baixo. Mesmo mais convencional que os trabalhos posteriores de Herbie, onde a pluralidade de gêneros começa a se instalar e a abordagem musical se torna mais experimental e fusion, Takin’ Off é um excelente disco de jazz, com performances altamente técnicas e composições de alto nível. Higgins já se mostrava um baterista de rudimentos ímpares e multifacetados. 

Dexter Gordon – Go (1962)

Higgins já estava familiarizado com Gordon, afinal, os dois haviam tocado em Takin’ Off, meses antes. Esse entrosamento se mostra presente aqui. Go é o disco mais cultuado do talentosíssimo saxofonista e através dele Dexter cravou seu nome na história do jazz com seu pioneirismo no be-bop. Nas baquetas, Higgins, com suas sofisticadas levadas, deu pulsação a esse álbum memorável.   

Jackie McLean – Let Freedom Ring (1963)

Um dos trabalhos mais inventivos e importantes da carreira do lendário saxofonista nova iorquino Jackie McLean e da história do gênero. Aqui, o quarteto de McLean esbanja um jazz temperado com toques vanguardistas e improvisos suntuosos. Na cozinha, Higgins e Herbie Lewis, entrosadíssimos, formam a cama para os ornamentos virtuosos de sax e piano de Jackie e Walter Davis Jr. Virtuosidade na medida certa, sem tirar nem pôr, sem exageros, ao mesmo tempo em que é inovador e poderoso. 

Lee Morgan – The Sidewinder (1964)

Higgins nunca exagera, mas você sempre sabe que está lá”, disse o célebre trompetista Lee Morgan exaltando a qualidade do baterista. Gostava tanto de Higgins que o escalou para a gravação de treze LPs posteriores, incluindo o também clássico Cornbread, com participação de Herbie Hancock, Hank Mobley e Jackie McLean. 

Gravado em 1963 no estúdio do notório produtor Rudy Van Gelder e lançado no ano posterior pelo selo Blue Note, The Sidewinder é um excelente exemplo da versatilidade do baterista que, com seu suingue de outro planeta, marcava suas digitais nos princípios desse mix do boogaloo com o jazz. A faixa título, que mistura o estilo aos ritmos latinos, ao mesmo tempo em que é sofisticada e acessível, logo se tornou um dos estandartes do gênero, sendo lançada também como single devido a seu sucesso. O disco salvou uma Blue Note que ia mal das pernas financeiramente. As quatro mil cópias iniciais do LP foram vendidas depois de poucos dias, e em 1965 o álbum alcançou o número 25 da Billboard.

Eduardo Raddi

Eduardo Raddi

Eduardo Raddi tem 24 anos, é acadêmico de Jornalismo, baterista d'O Grito, amante das artes, e um de seus maiores prazeres na vida é ouvir e pesquisar sobre música. De John Coltrane à Slayer, de Radiohead à Tom Zé, é a diversidade de sons que o fascina.

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