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Latexxx lança compacto criado diretamente para o vinil

Banda fala sobre a criação de seu EP que inaugura selo da loja Baratos da Ribeiro

Lançar um álbum em vinil talvez não seja a maior novidade do mundo em 2020, mesmo no Brasil. Já fazem dez anos que a fábrica da Polysom foi reaberta no país e, desde então, centenas de títulos foram lançados e relançados por diversos selos e empresas. Porém, mesmo quando um mercado está estabelecido é preciso recheá-lo de novidades. Já são muitas as formas em que o vinil chega às vitrolas do consumidor brasileiro, desde o modelo tradicional de comércio até esquemas de clube de assinatura. 

Em setembro, a loja carioca Baratos da Ribeiro estreou seu próprio selo, batizado de Clube do Vinil. Trabalhando com modelo de financiamento colaborativo (crowdfunding), a empresa garante parte do custeamento de produção enquanto o restante é arrecadado através da colaboração dos consumidores, que recebem diferentes recompensas relativas a quantia investida.

Junto da loja quem integra a diretoria do selo é a banda Latexxx, duo de synth rock que também é autor do primeiro lançamento do Clube do Vinil, um compacto duplo que foi concebido totalmente pensado no formato, da composição à prensagem. Com prazo de 60 dias de campanha, o EP foi um sucesso, batendo a meta planejada.

Formado por Fábio Caldeira (guitarra, voz e programações) e Gabriela Camilo (teclados, voz e programações) o Latexxx também faz parte da formação atual dos Robôs Efêmeros, banda que desde a década de 1980 acompanha Fausto Fawcett. Suas influências passeiam entre o pós-punk e o synth pop, com letras que trazem temas sensuais, políticos e existenciais.

O resultado obtido com o primeiro lançamento do Selo é um sucesso não só de público. É um produto ímpar em qualidade de produção, principalmente na área dos compactos, que são menos explorados pelas companhias. Mesmo sem uma vitrola, o EP do Latexxx já é uma obra completa. Sua capa abstrata, elaborada pela artista plástica C. Folly, permite quatro sentidos diferentes de interpretação conforme a orientação da arte é posicionada. Na contracapa, o espaço é aproveitado tanto no sentido artístico – com foto de Ana Paula Muniz – quanto técnico, trazendo créditos, informações de contato e nomes das músicas.

A mídia – que vem envolta de um luxuoso envelope de papel, pouco comum em sete polegadas – é de encantar os olhos: vinil transparente que traz no lado A o nome das faixas com o crédito para os compositores e, no B, um recorte da arte que é possível ser alinhada com a capa através da transparência do compacto.

Concebendo e gravando para vinil

O conceito do EP da Latexxx não se resume apenas a seu material gráfico. “Precisamos pensar e criar as músicas tendo em mente a minutagem de cada lado do disco. Aprendemos muito no processo e descobrimos que dava para criar músicas de dois minutos que não são vinhetas” conta Gabriela, tecladista e vocalista da banda. Ainda sobre esse processo, o guitarrista Fábio adiciona: “Comparando, parece cinema. O diretor pede uma música para um trecho que tem uma duração exata. Nós trabalhamos dessa forma, tendo em mente que cada lado tinha um limite de seis minutos e 40 segundos”.

Quando o processo de elaboração do disco começou, o Latexxx tinha apenas duas das quatro músicas do EP compostas: “Irmã Paranoia” (parceria com Fausto Fawcett, que canta na faixa) e “Love Loopin’” (música da dupla em parceria com Claucky Boom). Com os pouco mais de dois minutos restantes do lado A, o duo compôs “Estado de Choque”, uma canção que, apesar do tempo curto de duração, tem toda a estrutura de uma canção pop. “Ela tem riff, introdução, ponte, refrão e aí então repete tudo, no final ainda tem um solo! Por isso disse que parecia com fazer música para uma cena de cinema, foi um desafio foda”, conta Fábio. 

Para preencher os minutos finais do lado B, a banda compôs um tema instrumental, “Pontos de Fuga”, que dialoga com a capa do álbum. “É uma analogia com a Fabíola (C.Folly), que fez esse trabalho primoroso. Ela fez uma exposição unindo os temas de cada música com o trabalho dela, uma capa para cada música”, conta a dupla.

Se o trabalho de composição foi milimetricamente pensado para vinil, com a gravação e a masterização não foi diferente. “Mesmo que o artista grave de forma analógica é preciso enviar para a fábrica um arquivo digital. A questão é que nós não fizemos uma gravação que depois foi mixada, ajustada para o vinil. Desde o momento que fomos gravar todas as frequências já foram preparadas para o som do LP. Se você ouvir as músicas do nosso EP online, vai ser o mesmo material que enviamos para a fábrica”, comenta Fábio.

O novo EP do Latexxx encontra-se disponível para venda exclusivamente na Baratos da Ribeiro (Rua Paulino Fernandes, Nº 15, Botafogo, Rio de Janeiro). Com o lançamento e a iniciativa do Clube Do Vinil, um espaço para compactos criados com conceito, pequenas obras de quatro músicas, emerge no mercado. Se antigamente dizia-se que os sete polegadas vendiam a música e  os LPs vendiam o artista, com a nova proposta do selo um papel diferente para os disquinhos surge no mercado fonográfico, que está cada vez mais diverso para os amantes do vinil.

Lucas Vieira

Lucas Vieira

Lucas Vieira é jornalista e editor do Disconversa. Além de colecionar discos gosta de videogames antigos e assistir os mesmos filmes mil vezes (em VHS).

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