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Para dias ruins, da Mahmundi, é o primeiro disco da coleção Três Selos Paralelo

No início desse ano esquisito de 2020, nós colecionadores de vinil tivemos uma boa notícia: a três selos duplicaria sua produção de discos. A três selos é a reunião de, obviamente, três selos que já nos trouxeram discos de qualidade antes, a Assustado Discos, EAEO e a Goma Gringa. Ano passado lançaram um plano de assinatura mensal que nos trouxe, entre reedições e lançamentos inéditos, a mais fina música brasileira do passado e do presente. Agora lançam, devido aos inúmeros pedidos que muitas vezes não encontram espaço na coleção mensal, uma coleção paralela de discos avulsos, mas não é só isso: a qualidade das edições aumentou trazendo sempre álbuns em gatefold e discos em 180 gramas.

Adquiri meu exemplar pelo Sebo Baratos da Ribeiro localizado no bairro de Botafogo no Rio de Janeiro, mas tinha ficado preso lá desde o início da pandemia. Recentemente, consegui buscá-lo e, apesar da descrição promissora, fiquei impressionado com a qualidade da edição, a capa dupla é empastada e o LP ainda acompanha um pôster de uma foto lindíssima baseada nas sessões de fotos da qual saiu a escolhida para capa do álbum.

A Mahmundi é uma escolha acertada para queimar essas 650 cópias da tiragem e começar a coleção Três Selos Paralelo, sempre que olhava os comentários das redes sociais percebia a demanda pela discografia dela em vinil. O primeiro disco1 é uma pérola, mas o escolhido é o “Para dias ruins”, o segundo disco. Este que já apresenta a crescente maturação dos caminhos escolhidos pela artista, sendo um trabalho mais orgânico2, os elementos eletrônicos não ficam tão evidentes como no disco anterior, mesmo na música “Imagem”, que tem uma vibe que lembra muito os bailes charmes de Madureira ao assumir-se claramente R&B.

“Tempo Pra Amar” é a fronteira do que ela é neste momento e o poderá ser, o maior exemplo de que o conjunto de músicas é mais equilibrado e coeso que o do álbum de estreia, uma vez que não soa repetitivo por dosar melhor na produção o uso de efeitos dos sintetizadores. É incrível como ela mixa suas influências, do R&B, MPB, Pop Rock… percebe-se a atualidade do primeiro, a qualidade lírica do segundo e o aspecto retrô do terceiro. A sonoridade lembra em vários momentos uma síntese de Cassiano, Marina, Rita Lee, Lulu e Caetano ao mesmo tempo, com a qualidade de dialogar com eles sem perder a própria identidade.

O anterior já́ era bem acessível, esse disco é ainda mais, porém não significa nem um pouco que se tornou algo totalmente pop: está na fronteira e, por isso, na vanguarda. Fazia muita falta esse tipo de som, que visa ser radiofônico sem cair na banalidade e experimenta sem se tornar metido a besta, que não deixa ninguém para trás. Para este que vós escreveis foi o melhor lançamento nacional de 2018 e será uma maravilhosa adição a sua coleção.

Destaques: Alegria; Outono; Imagem; Vibra; Tempo Pra Amar.


Notas

1 Homônimo, de 2016, lançado no selo Stereomono da Skol Music.
2 Tire suas próprias conclusões ao ouvir também o novo e excelente álbum desse ano dela, chamado “Novo Mundo

William Mathias

William Mathias

William Mathias (@willxx023) é doutorando em Educação pela UERJ, mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio, Historiador, Arquivista e Pedagogo. Além de colecionador de discos de vinil, HQs e games, é professor da educação básica e pesquisador nos grupos de pesquisa “Ser em vibração: estética, psicanálise, linguagem e educação” na UERJ e Laboratório de Ensino de História e Patrimônio Cultural (LEEHPAC) da PUC-Rio.

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