#NeoSoul – 30 anos
O termo Neo Soul surgiu nos início dos anos 90, criado pelo produtor e executivo da Motown Records, Kedar Massenburg, com objetivo de comercializar um novo estilo musical que nascia da mistura entre o soul e R&B contemporâneo; a junção entre o analógico e digital.
Os elementos sonoros resgatam sonoridades clássicas do soul dos anos 60 e 70, além de incorporarem variações de jazz, funk, hip hop, elementos da música africana, música eletrônica, entre outros. Segundo o professor de estudos afro-americanos, Mark Anthony Neal, o gênero é “tudo, desde o R&B de vanguarda à alma orgânica… um produto da tentativa de desenvolver algo fora da norma”.
A música Soul é, essencialmente, ligada e mergulhada na intenção de mexer nos sentimentos e na alma. O Neo Soul mistura essa premissa ora com rimas, dramatização das narrativas, melodias suaves ou a junção de tudo isso. Observando e ouvindo os álbuns, nota-se a onda experimental com diversos instrumentos, timbres, metais e a liberdade criativa de alguns artistas. Álbuns como de Badu ou Common, por exemplo, possuem músicas de 10 minutos, algo que é impensável comercialmente, mas são características comuns dos artistas do gênero, que criaram uma certa estética e características próprias, desafiando algumas normatizações da ortodoxia musical.
Destaco como elementos que, particularmente, gosto muito: visual e sonoridades vintage, harmonias ornamentadas e melódicas, vozes que dançam na instrumentação e a mistura ao mundo digital de beats e sintetizadores.
The Soulquarians
É importantíssimo citar que a história do Neo Soul se fortaleceu e atravessou diretamente o grupo The Soulquarians. Trata-se de um coletivo rotativo de artistas experimentais, ativo entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000. Foi formado na junção de Questlove, baterista do The Roots e dono de uma fluidez absurda entre soul e hip hop; D’Angelo, um cantor de R&B e pianista; James Poyser, um tecladista de gospel e funk; J Dilla, um produtor com uma habilidade singular nos beats, além Erykah Badu, a única mulher do grupo, dona de uma voz suave e, ao mesmo tempo, potente, lindíssima e quase metafísica. Badu, inclusive, ficou posteriormente conhecida como Rainha ou Primeira-dama do Neo Soul. A curiosidade do nome The Soulquarians é que eles compartilham o mesmo signo: são todos aquarianos. O nome, então, vem da combinação entre Soul + o signo de aquário.
Eles se reuniam no Electric Lady Studios, estúdio fundado por Jimi Hendrix em 1970. Essa fusão criativa entre hip hop, soul e r&b acarretou em álbuns marcantes e premiados da época, como: “Voodoo” do D’Angelo, “Mama’s Gun” da Erykah Badu, “Things Fall Apart” do The Roots e “Like Water For A Chocolate” do Common.
Posteriormente, juntaram-se a eles: Q-Tip, Mos Def, Talib Kweli, Bilal e Roy Hargrove, que compõem a foto. Pelas mãos desses integrantes também saíram outros álbuns como “Phrenology” do The Roots, “Fantastic Vol. 2” do Slum Village, “Electric Circus” do Common, “1st Born Second” do Bilal. Em 2018, a PitchFork fez um mini documentário sobre a trajetória deles:
Embora não seja um grupo específico de Neo Soul e nunca tenham feito uma música do coletivo, as diversas influências e sonoridades que produziram tiveram enorme importância para o gênero. Abriram caminho para cantores como Maxwell, Lauryn Hill, Jill Scott, Alicia Keys, Amy Whinehouse, Janelle Monáe, cruzando e incorporando outros “neos” (neo-blues; neo-r&b), e repercutindo em novos artistas da cena até hoje.
Num propósito comemorativo desses 30 anos, fiz uma playlist com uma seleção de músicas no spotify, em ordem cronológica, de 1993 a 2005. Espero que curtam! =)
Link: https://open.spotify.com/playlist/1LlQUsxiQ4IyWPzdTc0KPs?si=d8MRhD63Ri-efVd-V8uTrQ
Recomendo também esse vídeo excepcional da Badu de 2018 na NPR:
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