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Disco da Semana: A obra-prima de Djeli Moussa Diawara

Lançado em 1983, em Abidijan (Costa do Marfim), quando Moussa tinha apenas 20 anos, Yasimika é um marco na música tradicional Mandinga.

Nascido em 1962 em Kankan, na Guiné, Jali Musa Jawara – popularmente conhecido como Djeli Moussa Diawara – teve contato com a música logo jovem, pois seu pai era um Griot que tocava Balafom (instrumento africano precursor do Xilofone), e sua mãe, era uma cantora. Seu irmão Mory Kante, tocava no grupo marfinense “Rail Band”, ao lado do importante cantor e compositor Salif Keita.

Seguindo os passos do irmão, Moussa decide se mudar para a Costa do Marfim onde, já aos 20 anos, assinaria com a AS Records para a gravação de seu primeiro disco. Além do fato de que o próprio álbum, que apesar de sua importância, é totalmente esquecido pela cultura ocidental, quase nada se tem de informação sobre os músicos que nele tocam. São eles Kouyate Djelimoridjan no Balafon, Lamine Kouyate e Kissiman nos violões, e as cantoras Djanka DiabateFanta Kouyate e Djenin Doumbia nas cândidas harmonizações.

O jovem compositor tocava a Kora – uma espécie de Harpa de braço longo e 21 cordas, feita artesanalmente e tradicional do Oeste da África. O instrumento secular de sonoridade ímpar é objeto de diversas pesquisas antropológicas em função de seu importante papel na cultura do povo Mandinga.

Ouvir Yasimika pela primeira vez foi uma grata surpresa, uma experiência diferente. Gravado em uma época em que a música africana tomava novas formas e adquiria elementos contemporâneos, Djeli Moussa conseguiu se aproveitar de recursos da produção – que se modernizava com a contemporaneidade – para gravar uma verdadeira aula, eloquentemente se utilizando das mais tradicionais facetas da música folclórica da Africa Ocidental.

A confluência do Balafon com a Kora, unidos ainda ao violão e a harmonizações vocais – que respondem ao vocal de Moussa – formam sonoridades angelicais. O disco segue uma fluência orgânica, concebida por uma banda muito ensaiada e entrosada, com quatro faixas longas que dialogam entre si ao longo de fluidos improvisos, fazendo do álbum quase um mantra. Os sons são únicos e hipnóticos.

Em Vinil

O LP foi lançado pela primeira vez em 1983 na Costa do Marfim (pela AS Records) e na França (pelo selo Tangent), e foi relançado apenas no Reino Unido (uma série de relançamentos) e nos Estados Unidos em 1990 e apenas em CD, com uma capa distinta.

Eduardo Raddi

Eduardo Raddi

Eduardo Raddi tem 24 anos, é acadêmico de Jornalismo, baterista d'O Grito, amante das artes, e um de seus maiores prazeres na vida é ouvir e pesquisar sobre música. De John Coltrane à Slayer, de Radiohead à Tom Zé, é a diversidade de sons que o fascina.

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