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Disco da Semana – A refinada bossa de Bebeto Castilho

Bebeto Castilho começou sua carreira como músico ainda em meados da década de 1950, acompanhando brevemente o compositor e arranjador Ed Lincoln. Em seguida, em 1957, foi o baixista da banda de Maysa, ao lado do pianista Luiz Eça e do baterista Hélcio Milito. Logo mais, estes seriam seus parceiros também na fundação do influente conjunto de jazz e bossa-nova Tamba Trio, que se tornaria uma das bandas mais importantes da época, introduzindo um ar contemporâneo à música brasileira desde seu LP de estreia, de mesmo nome, lançado em 1962. Além do Tamba, Bebeto ainda tem no currículo participações em discos como Milton Nascimento (1967), Quem é Quem, de João Donato (1973), João Bosco (1973), e Catedráticos, de Eumir Deodato (1973).

O Tamba Trio, na década de 1960

Mas é apenas em 1975 que é lançado (pelo selo Tapecar) seu primeiro e único disco solo, autointitulado ‘Bebeto’. Os arranjos são de Laércio de Freitas, um dos mais proeminentes em seu ofício na década de 1970, que reveza os teclados e pianos com Luiz Eça. A produção é do também ex-parceiro de Tamba Trio, Hélcio Milito, que também assume as baquetas. Bebeto fica no baixo, flauta e vocal principal.

O disco é uma delícia. A impostação suave da voz aveludada de Bebeto se integra ao timbre cristalino do piano elétrico, que reveza harmoniosamente com seu igual acústico. A sonoridade é complementada pela entrosada cozinha de anos de trabalho no Tamba Trio, flutuando desde o mais expansivo samba de “Batuque” – abrindo o disco entre cavaquinhos e surdos – até as mais introspectivas bossas, que ouvimos em “Tristeza de nós dois” e “Razão de Viver”, que encerra o vinil. As influências vem naturalmente de João Gilberto e de artistas com quem Bebeto trabalhou, como Chico Buarque e João Bosco. Na repertório do álbum, interpretações de composições de Eumir Deodato, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra, Pixinguinha, Joyce e Danilo Caymmi.

Em vinil

Apesar de muito bom, o álbum não é muito conhecido e vendeu pouco na época – como grande parte dos lançamentos da Tapecar. Consequentemente, se tornou raríssimo. É o caso de um disco que os colecionadores costumam chamar de “obscuridade”. Até agora ainda não recebeu nenhuma reedição nacional em vinil ou sequer CD. O disco foi relançado (em LP e CD) apenas uma vez, em 2002, pelo Whatmusic, um pequeno selo inglês especializado em jazz e música brasileira.

Contando que foram apenas três versões e uma única nacional, o álbum de estreia de Bebeto é muito difícil de ser encontrado, especialmente em vinil.  A edição original da Tapecar já foi vendida no Discogs por R$800, enquanto as outras têm preço médio de R$ 71,61(CD) e R$188,15 (LP).

Esse ano seria um momento ideal para o lançamento de uma reedição caprichada do álbum. Completando 45 anos em 2020, a estreia solo de Bebeto Castilho merecia uma reedição com disco em 180 gramas, reprodução da arte original e encarte exclusivo, contendo as letras da música (que não aparecem na edição original, lançada sem encarte), fotos exclusivas e textos de pesquisadores e de músicos que contribuíram para a obra de Bebeto.

Eduardo Raddi

Eduardo Raddi

Eduardo Raddi tem 24 anos, é acadêmico de Jornalismo, baterista d'O Grito, amante das artes, e um de seus maiores prazeres na vida é ouvir e pesquisar sobre música. De John Coltrane à Slayer, de Radiohead à Tom Zé, é a diversidade de sons que o fascina.

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