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O Guia do Discólatra #02 – Como comprar sua primeira vitrola?

Créditos: Reprodução

Para ouvir os discos você vai precisar de um aparelho de som, certo? Existem vários tipos de vitrola, milhões de informações e desinformações sobre aparelhos e é sempre confuso encontrar o seu primeiro equipamento. Mas vamos tentar facilitar as coisas!

O tipo de vitrola ideal vai depender dos seus objetivos como colecionador – se quer ouvir discos de uma forma descompromissada, se quer ouvir som de alta fidelidade, qual vitrola cabe no seu orçamento, etc. Vamos seguir o texto com algumas considerações:

O que preciso saber antes de comprar minha primeira vitrola?

Primeiro, vamos entender o que precisamos para ouvir música: um aparelho que seja formado pelo menos por um motor, um prato e um braço com uma agulha e cápsula que captem o sinal contido no disco. Além dessa pick-up, um amplificador para tornar esse sinal maior e caixas de som para ouvi-lo. Essas partes podem ser separadas em módulos ou estarem reunidas no mesmo equipamento.

Vamos pensar que existem duas possibilidades primárias para você comprar sua primeira vitrola – um aparelho novo ou usado.

Se você procura ouvir seus discos com uma qualidade realmente boa, é difícil encontrar em preços acessíveis aparelhos novos que desempenhem essa função com a mesma excelência de um vintage em bom estado. Os que existem, não possuem preços baratos no país. Equipamentos de qualidade usados costumam ter preços mais acessíveis. Porém, não pense de imediato que é mais simples investir em um usado: pela idade e desgaste, muitos desses equipamentos vão precisar eventualmente de manutenção e você precisa estar atento a muitos pontos antes de adquiri-los e é possível que no lugar em que você more não exista oferta.

Alguns pontos comuns são importantes de serem levados em conta tanto quando você for investir tanto em um equipamento novo quanto em um usado. São eles:

Oferta de cápsula e agulha compatível no mercado

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Agulhas gastam e quebram. Cápsulas também podem precisar ser substituídas. Quando for comprar seu toca-discos, pesquise sobre a oferta dessas peças no mercado e também por seu preço. Nesse caso, o Mercado Livre  e o Shopee podem ser grandes aliados, já que vendem diversos modelos e você pode descobrir qual a agulha desejada utiliza buscando “agulha” + “nome da vitrola”. 

Qualidade do material usado na construção

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Quanto menos plástico melhor a construção da vitrola tende a ser. Metal e madeira são grandes amigos, tanto pela durabilidade quanto pelo isolamento de vibrações que podem ser captadas pela agulha e atrapalhar a audição. Se no seu bolso só couberem vitrolas com material frágil, lembre-se de ser bastante cuidadoso ao manuseá-las. Evite também comprar toca-discos sem tampa, já que esta ajuda no isolamento e, principalmente, evita que o disco acumule poeira quando estiver sobre o prato. Caso não tenha essa possibilidade, procure alguma forma de adaptar uma proteção, com acrílico ou uma capa.

Rotações

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Vale à pena ter uma vitrola que tenha as opções de 33 e 45 rpm. Muitos compactos, discos de 10 polegadas e singles operam com a segunda velocidade, tornando-a essencial. Quanto aos LPs de 78 rotações, feitos de goma-laca (os mais antigos, quebráveis), evite usá-los em vitrolas mais comuns, já que eles necessitam de uma agulha específica para serem executados.

Operação manual, automática ou semi-automática

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Esse tipo de característica pode ser resumido como a forma que o motor e o braço da pick-up operam. Vitrolas automáticas param a rotação quando o lado do disco chega ao final e, geralmente, o braço volta para o descanso sozinho. Também é possível iniciar a audição ao apertar um botão, porém, é importante que a função esteja bem regulada para o braço não descer no meio da primeira música ou fora do disco, o que pode danificar a agulha. A diferença para a função semi-automática é que essa segunda permite você controlar algumas dessas funções de forma manual conforme a sua preferência.

Apesar da sensação de praticidade e conforto, a operação manual é sem dúvida a mais segura e, porque não dizer, a mais legal. Ouvi de um técnico uma vez a seguinte frase: “a função automática só é boa para quebrar agulha”. O manual permite que você mesmo coloque e tire o braço de cima do disco e pare ou inicie a rotação quando quiser. É uma função que evita pequenos acidentes que podem danificar o seu aparelho. 

Porém, não coloque essa característica como prioridade quando for comprar seu toca discos. Uma semi-automática (como é a minha) e uma boa dose de cuidado já garantem que sua agulha e seus LPs não vão ser danificados.

Tipo de motor – Belt drive, Direct Drive ou Rim drive?

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A operação do motor de uma vitrola pode ser feita por diferentes projetos. Os principais utilizam correia (belt drive), polia (rim drive) ou localizando o motor exatamente embaixo do prato (direct drive). Cada um possui suas particularidades e proporciona características. Porém, para vitrolas de construção mais simples ou intermediárias, recomenda-se a escolha das belt drive, pois sua execução e manutenção tendem a ser mais simples.

As correias utilizadas nas vitrolas belt drive ajudam no isolamento de ruídos e vibrações sendo, portanto, a escolha favorita de audiófilos. Sua manutenção costuma ser simples e a substituição da tira de borracha pode ser feita mesmo por discólatras iniciantes. Contudo, é um tipo de toca-discos não indicado para DJs, já que o sistema de seu motor impossibilita movimentos como o scratch, por exemplo.

Já o direct drive é o favorito dos DJs. Esse tipo de motor garante menos irregularidades na rotação do prato, apesar de gerar mais ruídos (pouco ou não perceptíveis em vitrolas de boa construção). Sua manutenção é mais dependente de técnicos, porém é um sistema aplicado normalmente em vitrolas que tendem a dar menos defeitos – e que também são mais caras.

O rim drive (ou idler drive) é um sistema menos comum que foi utilizado em vitrolas intermediárias dos anos 1970. São motores que operam com polias, de forma muito parecida com as correias. Os discos de borracha costumam ficar gastos e ressecados com o tempo e sua substituição é difícil, já que a oferta no mercado é pequena. Porém, há aparelhos bem construídos com esse tipo de motor e que são vendidos a preços acessíveis.

Saiba mais sobre os motores nesse texto.

Modelos de vitrolas

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São vários os modelos de vitrola disponíveis no mercado, tanto de usados quanto de novos. Porém, é possível dividi-los em tipos. Conheça os mais comuns:

Maletas

São os modelos mais simples. Tem como vantagens a portabilidade e o preço baixo, porém sua construção possui peças muito frágeis e o alto-falante embutido não é de boa qualidade. Desde os modelos mais antigos são equipamentos de entrada e os mais modernos oferecem opções como bluetooth e conexão com computadores para conversão das músicas.

3×1

São equipamentos que reúnem diversas funções em um mesmo aparelho, como rádio, tocadores de CD e K7 e vitrola. Alguns mais modernos incluem entrada USB e bluetooth. Esses aparelhos foram muito comuns entre as décadas de 1970 e 1990 e são ótimos investimentos para colecionadores que estão começando. Divididos entre os horizontais e verticais, os modelos mais antigos costumam ter melhor construção e mais funções.

Modulares

São os modelos com a melhor construção e, consequentemente, com os maiores preços. A oferta de aparelhos novos é pequena e com preços elevados. Porém, os usados podem ser adquiridos com bons preços após muita pesquisa. O fato de peças como amplificadores (ou receivers), equalizadores, tape decks, caixas e toca-discos serem peças separadas propiciam misturas de características, fazendo com que o discólatra monte um sistema de som a seu gosto. 

Outras características

Ajuste de contrapeso e compensação de força lateral (antiskating)

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São regulagens que garantem a precisão do seu toca-discos e são comuns em aparelhos de boa construção. Algumas vitrolas intermediárias ou de entrada possuem essas duas funções configuradas de fábrica, porém não trazem mecanismos para sua regulagem. 

O contrapeso trabalha junto com a força de tração (tracking force) da sua agulha. Sua regulagem faz com que o braço exerça o peso correto sobre o disco. Caso esteja muito leve, ele pode fazer a música “pular” e, caso esteja muito pesado, pode danificar seu LP. Para sua regulagem (que detalharemos melhor em outro texto) indica-se também o uso de uma balança de precisão.

O antiskating regula a forma como a agulha desliza lateralmente sobre os sulcos. Sua regulagem precisa evita que ocorram pulos ou que a agulha agarre em determinado ponto da gravação. Um CD ou LD ajudam bastante em sua regulagem, conforme veremos em texto específico sobre o mecanismo.

Luz estroboscópica

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A luz estroboscópica fica localizada próxima ao prato e garante que o discólatra identifique se a rotação do motor está precisa ou não. Com ela, é possível saber se  o aparelho está girando da forma correta ou precisa de manutenção. É uma função presente em vitrolas de melhor construção e maior preço e não é uma característica de primeira necessidade – com uma audição atenta é possível perceber se o motor está funcionando perfeitamente.

Pitch

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Função muito utilizada por DJs, o pitch possibilita variações na rotação da vitrola. Além de trazer efeitos para as mixagens, o mecanismo também pode corrigir pequenos defeitos na força do motor, ajudando o prato a girar na velocidade certa. É uma característica presente em diversas vitrolas, mas, principalmente, nos equipamentos profissionais e de melhor construção.

Opinião: Qual vitrola eu compraria hoje para começar?

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Considerando um cenário em que eu possa comprar equipamentos usados após testá-los, minha escolha seria por um 3×1 horizontal de marcas como Sony ou Philips em bom estado com as caixas originais. Essas vitrolas possuem controles de grave e agudo (equalização), opção de acionamento manual ou automático, escolha de rotação e regulagem de contrapeso e antiskating. Em relação a um sistema modular, que seria o ideal, seu custo-benefício é ótimo e a qualidade do som é satisfatória até para aqueles que já são acostumados com o som do vinil. Além disso, tocam fitas K7, rádio e algumas ainda trazem entrada auxiliar e a possibilidade de ligar quatro caixas de som.

Das características descritas anteriormente, considero essenciais para uma boa vitrola a oferta das peças de reposição, a construção do equipamento e a possibilidade de alterar rotações. Logo em seguida, coloco as regulagens de antiskating e contrapeso, que são de extrema importância. Porém, a regulagem de fábrica de alguns aparelhos são minimamente funcionais se utilizadas com a agulha e cápsula indicadas. Um aparelho como o da foto supre as questões levantadas nesse parágrafo.

Considerações finais

Como sempre, a paciência é fundamental. Leve sempre em consideração o quanto você pode investir e o que há de oferta dentro das suas possibilidades. Não priorize começar com um equipamento caro e, caso não exista a possibilidade de procurar usados, compre uma vitrola nova que caiba no seu bolso. Se a única forma que você tem para ouvir seus LPs é com uma maleta, ouça. Peça sempre ajuda a outros colecionadores e não se atenha aos milhares de comentários da internet dizendo “junte mais dinheiro e compre tal modelo”. Por esse caminho, você nunca comprará uma vitrola ou irá demorar a ponto de perder o interesse.

Nos próximos textos, abordo especificamente características para adquirir vitrolas usadas e novas. Avalie qual das duas te interessa mais e cabe no seu bolso. A qualidade do som não é a única característica que um discólatra deve priorizar.

Lucas Vieira

Lucas Vieira

Lucas Vieira é jornalista e editor do Disconversa. Além de colecionar discos gosta de videogames antigos e assistir os mesmos filmes mil vezes (em VHS).

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