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Progressivando: Cinco discos ao vivo de Prog Rock

Ah, os shows! Pessoas amontoadas em teatros, bares, arenas… Alguém derruba bebida em você, outro dança tão avidamente que ninguém ousa chegar perto, as pessoas pulam e levam você junto, aquele calor, nenhum ventilador funciona devidamente, os músicos vibram e a conexão com o público se dá pelas ondas sonoras envolvendo todo o ambiente, todos os corações. Deu saudade, né? Esse gostinho de sujar a roupa e lavar a alma ainda vai ter que esperar para ser revivido, então, é minha obrigação listar 5 discos ao vivo para você deixar o rock progressivo invadir seu toca-discos!

O prog acompanha o estigma de ser feito de grandes sinfonias, anfiteatros, pessoas comportadas apreciando atenciosamente o virtuosismo dos músicos. A verdade é que isso é uma grande bobagem e essa seleção de álbuns ao vivo é justamente para fazer você vibrar, arrastar o sofá da sala, abrir uma cerveja e gritar bastante como se estivesse mesmo em um show – afinal, quem canta seus males espanta!

Sunday Night At London Roundhouse (1974) – Nektar

Lançado em 1974, Sunday Night At London Roundhouse é um álbum ao vivo da banda Nektar lançado pela Bellaphon Records (e, no Brasil, pela diferenciada Sábado Som) com uma produção muito bem feita de Peter Hauke. As guitarras nesse disco ganham um ímpeto enérgico nas mãos de Roy ‘T’ Albrighton (que também se encarrega dos vocais)! A formação ainda conta com Derek Mo no contrabaixo, Alan ‘Taff’ Freeman nos teclados, Ron Howden na percussão e um crédito especial para as luzes de Mick Brockett (pensa como deve ter sido incrível o visual desse show hein?).  No lado A do disco, temos a gravação ao vivo de duas faixas apresentadas numa noite em 1973 no London Roundhouse: “Desolation Valley“, originalmente lançada no álbum de estúdio A Tab in the Ocean e uma versão de “A Day In The Life Of A Preacher (Featuring The Birth Of Oh Willie)”, originalmente lançada no álbum de estúdio …Sounds Like This. Para o lado B, temos uma jam-session quente gravada no estúdio inglês Chipping Norton Recording Studios com três faixas únicas que valem muito a apreciação: “Oop’s (Unindentified Flying Abstract)”, “Mundetango” e “Summer Breeze”. 

At The Rainbow (1973) – Focus

 Seguindo a lista, um dos grandes álbuns ao vivo dentro do rock progressivo certamente é At the Rainbow da banda Focus, lançado em 1973 pela Imperial Records e gravado num sábado inspirador no Rainbow Theatre em Londres, local que, por ironia do destino ou não, hoje é utilizado pela Igreja Universal do Reino de Deus – bom, por ter tido o Focus tocando lá, um templo sempre foi, não é mesmo? A versão original do disco é gatefold com uma ilustração interna incrível de Ian Beck. A seleção de músicas nesse disco é irretocável, com grandes clássicos da banda em versões cheias de sentimento, de energia, algumas com o andamento ligeiramente mais rápido que as versões originais de estúdio. No Lado A temos “Focus III” e a fantástica “Answers? Questions! Questions? Answers!”, originalmente lançadas no terceiro álbum de estúdio da banda e o mais recente naquele momento. Fechando o Lado A temos “Focus II”, originalmente lançada no segundo álbum de estúdio da banda. Vale muito destacar nesse disco como cada integrante é peça fundamental da mágica absoluta da banda ao vivo: linhas de baixo extremamente precisas com Bert Ruiter, Thijs van Leer liderando a banda nos teclados e flauta ao lado de Jan Akkerman nas guitarras, conduzidos por Pierre van der Linden quebrando tudo na bateria. Percebeu? É isso mesmo, um álbum instrumental! E você mal consegue perceber isso, pois as melodias preenchem perfeitamente os espaços.

O lado B abre com excertos da grandiosa “Eruption” e segue para o clássico dos clássicos da banda “Hocus Pocus”, ambas lançadas originalmente no segundo álbum de estúdio da banda. Na segunda, podemos destacar o mais próximo de vocais que iremos encontrar no disco – Thijs van Leer nos deixando extasiados com seu yodelling, que é uma técnica de canto sem palavras definidas com mudanças rápidas de registro entre voz de peito e falsetes. A banda ainda nos apresenta a belíssima canção “Sylvia” e finaliza o disco retomando o tema de “Hocus Pocus”. O único erro desse disco é que ele não tenha sido lançado como duplo, contando com outras faixas como “Anonymous 2” e “House Of The King” que também foram apresentadas naquela noite – e que noite!

Pictures At An Exhibition (1971) – Emerson, Lake & Palmer

Tensão, lirismo, irreverência. Como terceira indicação, o trio megalomaníaco Emerson, Lake & Palmer não hesitou em arranjar e gravar ao vivo no Newcastle City Hall em 1971 a suíte “Pictures at an Exhibition”, composta por Mussorgsky e inspirada pelas criações artísticas de Viktor Hartmannem. Uma peça dedicada a pianistas virtuosos não poderia ter agradado ninguém menos que Keith Emerson e seus sintetizadores! O disco toca num contínuo, sendo a peça apresentada como única. Contudo, as partes são creditadas sequencialmente no lado A como “Promenade”, “The Gnome”, “Promenade”, “The Sage”, “The Old Castle” e “Blues Variation”.

As três primeiras e “The Old Castle” são arranjos das peças de Mussgorsky, onde o tema de “The Old Castle” é ainda utilizado como inspiração para “Blues Variation”. No meio da tensão de Mussorgsky, amanhece “The Sage”, um belíssimo violão e voz de Greg Lake ao estilo erudito. E virando o disco temos mais uma vez o tema de “Promenade” e uma composição creditada ao trio que é absolutamente incendiária – “The Curse of Baba Yaga”. A canção vem como parte intermediária da peça “The Hut of Baba Yaga” de Mussgorsky. Para completar o lado B temos “The Great Gates of Kiev” fechando a suíte, seguida de “The End” – calorosos aplausos e saudações do público (ô saudade dessa vibração!). O álbum se encerra com um arranjo do trio para “Nutrocker” – uma composição inspirada na marcha do balé O Quebra Nozes de Tchaikovsky. É ou não é um disco para quebrar a concepção de música erudita e unir tudo numa amálgama musical?

Exit… Stage Left (1981) – Rush

A quarta indicação vai para os canadenses! O Rush é uma banda que lançou diversos álbuns ao vivo ao longo da carreia, sumarizando em cada um o espírito das fases que a banda teve. Exit… Stage Left é um desses discos ao vivo grandiosos – incrível pensar como três pessoas conseguem soar tão encorpadas em seus baixos, baterias, guitarras e sintetizadores. Lançado em 1981 como um disco duplo pela Anthem Records e produzido pelo companheiro fiel do Rush, Terry Brown, o disco conta com gravações das turnês de 1980 do álbum Permanent Waves e de 1981 do clássico álbum Moving Pictures. Esse ao vivo é um disco que merece uma atenção especial em algum Progressivando futuro, mas por hora fica aqui essa indicação que não poderia passar batida: uma seleção de músicas primordial de álbuns como A Farewell to Kings, Hemispheres, Permanent Waves e Moving Pictures sendo executadas ao vivo com primazia! 

Live (1973) – Genesis

Para fechar, nada menos que o quinteto Genesis em sua formação clássica com Peter Gabriel, Phil Collins, Tony Banks, Steve Hackett e Mike Rutherford! Genesis Live foi lançado em 1973 pelo selo já conhecido do chapeleiro maluco, Charisma Records, e conta com gravações de shows da turnê de lançamento do, até então, mais recente álbum da banda – Foxtrot. “Watcher Of The Skies” abre o Lado A do LP assim como também abre Foxtrot, mas com o diferencial de que ao vivo a introdução estrelada por Tony Banks ganha como apoio o vibrante coro de recepção do público. A segunda faixa vem também de Foxtrot, “Get ‘Em Out by Friday”. O lado se encerra com a marcha da planta-vingativa “The Return Of The Giant Hogweed”, originalmente lançada no álbum The Nursery Cryme (que inclusive foi tema do nosso penúltimo Progressivando – se não leu, corre lá!).

Nesse disco se compreende o quanto Genesis foi uma banda que entrou permanentemente para a memória de cada pessoa que conseguiu vê-los aos vivo em seus primeiros anos – execução impecável sem deixar de mencionar a força da banda e sua teatralidade. Genesis certamente foi uma das bandas mais envolventes em termos de show dentro do rock progressivo. Para o lado B, duas peças absolutamente fantásticas da banda com aproximadamente 10 minutos cada: “The Musical Box” abre o lado, bem como abre seu álbum de estúdio original The Nursery Cryme, enquanto “The Knife” fecha o disco, assim como fecha Trespass – o primeiro disco do Genesis com Peter Gabriel nos vocais, ainda sem Phil Collins e Steve Hackett. Definitivamente um pecado que Genesis Live não tenha sido lançado originalmente como um disco duplo! Um registro e tanto do Genesis em sua potência de ser.

E ai? Já arrastou o sofá? Hora de escolher algum LP e colocar na agulha!

Raphaela de Oliveira

Raphaela de Oliveira

Contrabaixista mineira que escolheu a Física como profissão. Divide o tempo que resta entre o ballet clássico, os vinhos e seus preciosos vinis. É capaz de prosear horas a fio sobre sua paixão - o rock progressivo! Aceita um cafézin?

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