Progressivando

Progressivando – Três bandas lideradas por mulheres

Sonja Kristina em show do Curved Air, em 2017 (Crédito: Tim Bastock)

Ah, o rock progressivo… Dominado por seus rostinhos brancos masculinos. Mas se engana quem acha que boa música não brota em qualquer lugar, em qualquer coração! Pegue seu cafézinho que no Progressivando de hoje eu vou te dar três bons motivos para escutar mulheres progressivas!

Mother Superior

Começando bem, a primeira indicação é da mulherada em peso do Mother Superior que sabia muito bem onde queria chegar musicalmente! Uma banda britânica formada completamente por mulheres: Lesley Sly nas teclas, Jackie Badger no contrabaixo, Jackie Crew na batera e Audrey Swinburne na guitarra. Os vocais? Todas! Dessa forma, a banda conseguiu explorar muito bem arranjos belíssimos de vozes em suas composições. A sonoridade do Mother Superior fica na fronteira do rock clássico dos meados dos anos 60-70 com o rock progressivo: arranjos bem elaborados, dinâmicas e atmosferas contrastantes numa mesma música com pitadas de virtuosismo.

Mother Superior gravou – infelizmente – um único disco lançado pelo selo sueco independente SMA em 1976 (em pouquíssimas e raras cópias em vinil, com valores batendo atualmente quase na casa dos quatro dígitos no Discogs) com produção de ninguém menos que Hugh Jones, responsável pela engenharia de som do lendário álbum Light as a Feather , do Chick Corea.

O único álbum da banda foi lançado com o nome de Lady Madonna, além de contar com um arranjo bem original da música de mesmo nome composta pelos Beatles numa tentativa de impulsionar a banda. Mas a verdade é que Mother Superior já tinha composições próprias bem características, únicas e de poder próprio – “Lady Madonna” parece destoar do resto do álbum que é verdadeiramente incrível. Em 1996 o álbum foi relançado em CD (também raro de achar) pelo selo britânico Audio Archives apenas como Mother Superior. Mas calma! Esse incrível e único álbum do Mother Superior está disponível integralmente para ser apreciado livremente no YouTube!

Mood Merchant” é minha faixa de destaque desse disco. Começando com um dedilhado de guitarras em camadas, o baixo e a bateria vão se somar de forma sincopada à introdução e culminar num riff forte nos ombros do órgão. A música desenrola te envolvendo totalmente na sua energia e possui uma secção instrumental intermediária de dar orgulho com um solo de teclas fantástico e um timbre maravilhoso de SG distorcida nas mãos canhotas de Audrey (mestre Iommi ficaria orgulhoso!) – apenas ESCUTE! Outra pérola mais progressiva do disco e que também merece destaque é “Ticklish Allsorts” com boas passagens instrumentais e um ótimo breve solo de contrabaixo com bastante drive – fala se não é de amar uma banda dessas?

Dos poucos registros ao vivo da banda, deixo aos curiosos o Mother Superior interpretando “Love the One You’re With” de Stephen Stills do já conhecido grupo Crosby, Stills, Nash & Young (sim, achamos de onde vieram as inspirações para os arranjos vocais do Mother Superior) numa versão bem mais visceral ao estilo hard-prog!

Catapilla

O que dizer de uma das vozes mais intensas que habita o mundo do rock progressivo? Catapilla é uma banda inglesa com dois álbuns lançados pelo grandioso selo Vertigo: Catapilla (1971) e Changes (1972). A sonoridade da banda é completamente fora da curva: os vocais femininos raivosos são liderados por Anna Meek e dividem um espaço não convencional com uma dupla de sax, além da flauta e clarinete!

As composições da banda são marcadas por longas passagens instrumentais com bastante groove e muita, muita, improvisação dos sopros – destaque para a faixa “Naked Death” que abre o primeiro álbum da banda nos seus mais de 15 minutos de duração e que sintetiza bem o que é Catapilla. As versões em vinil de qualquer um dos dois discos da banda ainda não são impossíveis de serem adquiridas, sendo ambos gatefold com artes lindas! Fica como recomendação especial o grandioso álbum de estreia da banda!

Curved Air

Para fechar a trinca de bandas com mulheres progressivas, nada menos que o fantástico grupo Curved Air! A banda inglesa é liderada por Sonja Kristina nos vocais e mistura muito bem a sonoridade progressiva com elementos do folk e música erudita. As composições da banda permitem que Sonja explore tanto seus vocais suaves e doces quanto seus vocais mais rasgados e intensos, que só engrandecem o som do Curved Air ao lado do virtuoso violino que a banda traz como destaque para além da clássica base baixo, bateria, guitarra e teclado.

Os três primeiros álbuns da banda são excelentes: Air Conditioning (1970), Second Album (1971) e Phantasmagoria (1972). As melhores composições desses três álbuns ficaram bem reunidas em versões mais viscerais do que as estúdio no álbum ao vivo Curved Air – Live (que inclusive já tem um Progressivando especial faixa por faixa desse disco para você conferir aqui no Disconversa).

E sabe o que mais? A banda ainda está na ativa na liderança de Sonja, fazendo shows ao redor do mundo (incluindo uma prometida vinda ao Brasil pós-pandemia!) e os álbuns são acessíveis tanto pelas plataformas digitais quanto em mídias físicas, possíveis de serem garimpadas por bons preços aí! Corre para achar o seu! 

Enquanto isso, encerramos o Progressivando de hoje com Sonja Kristina ao vivo em 1972 interpretando com muita graciosidade e paixão a balada violão e voz “Melinda”, originalmente lançada no álbum Phantasmagoria!

Lucas Vieira

Lucas Vieira

Lucas Vieira é jornalista e editor do Disconversa. Além de colecionar discos gosta de videogames antigos e assistir os mesmos filmes mil vezes (em VHS).

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